Do barraco de tábua ao trator novo, da pampa velha ao negócio estruturado: a história do agricultor Aristeu Idelfonso e de sua esposa, Joana Assunção, é o retrato da força da agricultura familiar em Mato Grosso do Sul. No Sítio Terra Prometida, na zona rural de Campo Grande, a família prosperou com trabalho, apoio da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) e da CEASA/MS (Centrais de Abastecimento de Mato Grosso do Sul), especialmente do CECAF (Centro de Comercialização da Agricultura Familiar).
Juntos, eles mantêm um ‘paraíso verde’, onde cultivam cebolinha, alface, rabanete, rúcula e inúmeras outras hortaliças, que correspondem a 44 toneladas do que foi comercializado na CEASA/MS só neste ano.
A trajetória do sítio, cujo nome parece uma profecia cumprida, começou em 2001 com a compra do terreno por meio do, então, Banco da Terra. Na época, não havia energia, a casa era de tábuas e nenhum maquinário fazia parte da realidade da família. Aristeu vendeu um caminhão velho para adquirir um tobata, microtrator, e recebeu como doação as tábuas que seriam usadas na construção da primeira moradia.
“Eu não vou dizer que não tinha nada, porque eu era vivo. Mas foi com a cara e a coragem. A Joana ia ao Ceasa comigo em uma pampa velha, que na época furou o tanque, e aí a gente usava um galão com gasolina para fazer uma gambiarra e chegar até a Ceasa”, relembra o produtor.
Foram anos difíceis, de plantar, colher e vender para quitar a terra, alimentar a família e tentar acessar políticas públicas.
“Fiz com o que tinha. Teve um dia que não consegui comprar insumo para combater as pragas na couve e catei tudo na mão com meus filhos. Parecia loucura, mas era sobrevivência”, conta.
Sem garantias para oferecer aos bancos, a família não conseguia crédito. Mas com persistência e muito trabalho, em 2013, veio um marco: a compra de um trator zero pelo Pronaf Mais Alimentos.
A mudança não foi apenas simbólica. Com estrutura e organização, o sítio de dez hectares – sendo dois deles destinados às hortaliças – ganhou novo fôlego e passou a ser administrado por toda a família: Aristeu, Joana, os filhos Ricardo e Ronaldo e a nora Gisele.
“Todo mundo tem uma função. A panela que cozinha para um, cozinha para dez. Minhas netas acordam tarde, são adolescentes, então, coloquei para ajudar na sementeira”, comenta. “As outras três netas moram fora. Duas na Capital, e a outra em Aquidauana. Estão fazendo faculdade”.
Essa virada de chave no sítio veio da força do trabalho coletivo, mas também do acesso a políticas públicas estruturantes. O trator novo, as casas de alvenaria para cada filho, os veículos, a renda estável – tudo isso impulsionou a produção. De janeiro a junho de 2025, Aristeu entregou no CECAF mais de 44 toneladas de hortaliças – só de cebolinha foram 17 toneladas.
“Se não tirar pelo menos R$ 20 mil por mês da terra, tem prejuízo com toda a produção dentro e fora do CEASA. A gente só comercializa com cliente certo”, afirma.
As vendas diárias são garantidas: dois sacolões e cinco clientes fixos no pavilhão do CECAF, na CEASA/MS.
Essa relação com a Ceasa tem raízes profundas. Desde 1995, Aristeu comercializa no espaço. E com a criação do CECAF, em 2014, passou a contar com um espaço exclusivo para agricultores familiares – o que transformou sua rotina.
“Pago só R$ 5 por dia. É simbólico. Isso ajuda demais o pequeno produtor, que não tem condições de bancar aluguel caro de pedra como o da cooperativa”, afirma.
Hoje, com três credenciais do CECAF no nome da família, os filhos se revezam na comercialização, garantindo presença constante na central.
Para o técnico da Agraer, Martin dos Santos, a trajetória da família é exemplo de como políticas públicas podem transformar realidades.
“O Aristeu é um produtor que soube abraçar as políticas públicas. Trabalha com filhos, netos e nora, todos envolvidos na produção. Emitimos o CAF e o cadastro do CECAF para que ele pudesse comercializar na Ceasa e participar de projetos como o PAA [Programa de Aquisição de Alimentos], onde também entregou por anos com apoio da Agraer”.
Na lida do campo, também há espaço para reflexão e gratidão.
“Se eu tenho algo hoje, é pelo meu trabalho. A agricultura familiar é só um nome se a gente não faz a nossa parte. O recado que eu deixo pra quem está começando ou passando dificuldade é ‘não é só trabalhar, é saber administrar. Porque sem isso, nenhum dinheiro dá conta’”, finaliza Aristeu.
Neste 25 de julho, Dia Internacional da Agricultura Familiar, o exemplo do casal Aristeu e Joana reafirma a importância de políticas públicas bem aplicadas, da união familiar e da valorização do pequeno produtor que alimenta o Brasil.
Aline Lira, Agraer***